Em resposta a essas perdas, Cartago voltou sua atenção para a Península Ibérica, onde Amílcar Barca, pai de Aníbal, iniciou uma campanha de expansão. Após sua morte, o comando passou para o genro Asdrúbal, e depois para o jovem Aníbal Barca. Ele continuou a política expansionista e, em 219 a.C., sitiou e conquistou a cidade de Sagunto, aliada de Roma — o que serviu como estopim para o novo conflito.
Em 218 a.C., Aníbal iniciou uma das mais ousadas campanhas militares da história: partindo de Cartago Nova (atual Cartagena, na Espanha), conduziu um exército de cerca de 90 mil soldados, 12 mil cavaleiros e dezenas de elefantes até a Itália. Sua marcha incluiu a travessia dos Alpes, uma façanha que custou muitas vidas, mas que surpreendeu os romanos, que não esperavam um ataque por terra.
Batalha do Rio Trébia (218 a.C.)
Aníbal atraiu os romanos para uma emboscada e venceu com uso inteligente da cavalaria.
Batalha do Lago Trasimeno (217 a.C.)
Outro golpe estratégico: os romanos foram atacados de surpresa em um vale, resultando em uma das maiores emboscadas da história militar.
Batalha de Canas (216 a.C.)
Considerada uma obra-prima da tática militar. Aníbal cercou e destruiu um exército romano muito superior em número, matando cerca de 50 mil soldados em um único dia. A derrota traumatizou profundamente Roma.
Após Canas, diversas cidades da Itália (incluindo Capua e partes da Lucânia) se aliaram a Aníbal. No entanto, apesar das vitórias, ele não atacou diretamente a cidade de Roma, o que muitos historiadores apontam como um erro estratégico.
Após os desastres iniciais, Roma adotou uma nova estratégia defensiva sob o comando de Quinto Fábio Máximo, chamado de “o Cunctator” (o que adia). Ele evitava batalhas diretas e desgastava o exército inimigo aos poucos — a chamada guerra de atrito. Embora impopular no início, essa estratégia foi crucial para dar tempo a Roma de se reorganizar.
Enquanto Aníbal permanecia na Itália, o general romano Públio Cornélio Escipião, mais tarde conhecido como Escipião, o Africano, iniciou uma campanha para cortar o apoio a Aníbal. Ele conquistou a Hispânia, derrotando os exércitos cartagineses e ganhando apoio local.
Em 204 a.C., Escipião levou a guerra até o norte da África, ameaçando diretamente Cartago. A cidade chamou Aníbal de volta da Itália, encerrando sua longa campanha por terras romanas. Em 202 a.C., os dois maiores generais da guerra se enfrentaram na decisiva:
Na planície de Zama (na atual Tunísia), Escipião derrotou Aníbal usando uma estratégia superior: neutralizou os elefantes de guerra e rompeu as linhas cartaginesas com sua cavalaria. Aníbal reconheceu a derrota e convenceu o Senado cartaginês a buscar a paz.
Derrota definitiva de Cartago: A cidade perdeu quase todos os seus territórios fora da África, incluindo a Espanha e suas colônias.
Tratado de paz severo (201 a.C.):
Cartago perdeu sua frota de guerra.
Foi proibida de fazer guerra sem permissão de Roma.
Teve que pagar uma nova indenização pesada.
Ascensão de Roma como superpotência:
A vitória consolidou Roma como a principal potência do Mediterrâneo Ocidental, abrindo caminho para seu domínio total nos séculos seguintes.
Prelúdio para a Terceira Guerra Púnica:
Apesar do tratado, Roma manteve vigilância sobre Cartago, o que acabaria levando à sua destruição total na Terceira Guerra Púnica (149–146 a.C.).
A Segunda Guerra Púnica é estudada até hoje em academias militares como um exemplo clássico de estratégia, tática e liderança. A figura de Aníbal é celebrada como um dos maiores comandantes militares da história, enquanto Escipião Africano representa a capacidade de adaptação e resiliência da máquina militar romana.
O conflito também ilustra como o equilíbrio de poder pode mudar com decisões políticas, alianças e estratégias de longo prazo — um tema ainda atual nas relações internacionais.